Esse ano, uma nova leva de grandes filmes do cinema adicionam mais uma década a suas trajetórias comemorando 30 anos de suas estreias. Produções famosas e ainda muito queridas do grande público, consideradas atemporais e imortais. Filmes como Cães de Aluguel, Os Imperdoáveis, Aladdin, Esqueceram de Mim 2, Batman – O Retorno, Perfume de Mulher, O Guarda-Costas, Questão de Honra, Instinto Selvagem e Drácula de Bram Stoker. Isso, é claro, só para citar os principais. Mas a verdade é que em um ano, onde mais de uma centena de produções são lançadas, os que ficam verdadeiramente para a eternidade são apenas um punhado.
Os cinéfilos podem até se aprofundar um pouco mais (afinal assistir a filmes é o resumo de suas vidas), porém, em relação ao grande público nem tudo fica memorável. Afinal, quantos já ouviram falar ou lembram de filmes como Meu Primo Vinny, O Sucesso a Qualquer Preço, Homens Brancos Não Sabem Enterrar, O Homem da Califórnia, Lua de Fel e O Jogador – todos filmes lançados no mesmo ano citado e relevantes na época, mas que terminaram caindo no esquecimento.
A verdade é que mesmo com todo elogio possível da crítica, ou desprezo, é o público quem dita o que fará sucesso, o que será esquecido e, variando as gerações, o que será redescoberto. Assim, nesta nova matéria dupla, a proposta é justamente averiguar quais dentre os clássicos do cinema que completam 31 anos em 2023, o grande público abraçou de vez e quais ele decidiu execrar. Agora seguimos com a parte de cima da lista, com os clássicos mais adorados pelos fãs. Confira
Muitos conheceram o cultuado diretor asiático John Woo em sua carreira em Hollywood, quando esteve no comando de blockbusters como A Outra Face (1997) e Missão: Impossível 2 (2000). Mas Woo era dono de uma carreira celebrada em seu país de origem, dono de obras de ação de muito sucesso como Alvo Duplo (1986), O Matador (1989) e Bala na Cabeça (1990). Foi nessa leva que surgiu Fervura Máxima, o último filme asiático que Woo faria antes de sua entrada triunfal no mercado americano com O Alvo (1993). Na trama, Chow Yun-Fat vive um policial, precisando se unir a um espião para derrubar um poderoso homem da máfia. É ação do início ao fim.
Os Muppets foram criados pelo animador Jim Henson ainda na década de 1950. Lá, os personagens em forma de marionetes apareciam em participações em programas de TV e comerciais de todos os tipos. Com sua notoriedade escalando, os bonecos viriam a ganhar um programa próprio em 1976, e três anos depois, em 1979, estrelariam seu primeiro filme para o cinema. Foram mais dois longas na década de 80, até abrirem os anos 90 com esta produção natalina. O título em português, no entanto, pode não deixar claro o verdadeiro teor da história, já que trata-se de uma adaptação do clássico de Charles Dickens, Um Conto de Natal, revisitado da maneira Muppet. O chamariz sem dúvida é a presença do Oscarizado Michael Caine, que vive o sovina Scrooge nesta versão.
Uma boa lista dos melhores que se preze não pode ficar sem um exemplar dos estúdios Ghibli, um dos mais renomados quando o assunto é animação de qualidade. Suas histórias vão sempre muito além da estética e de uma técnica precisa, abordando questões sociais relevantes e temas caros ao seu país de origem. Os filmes do estúdio, no entanto, possuem abrangência universal, sendo facilmente traduzidos para todas as culturas. Neste longa que completa 31 anos, um piloto italiano da Primeira Guerra Mundial se vê amaldiçoado com a aparência de um porco – mas isso não faz diminuir sua coragem, seu charme ou seu romantismo.
Muitos ainda consideram esta superprodução biográfica, um dos melhores trabalhos das carreiras de ambos o cineasta Spike Lee e seu protagonista, o astro Denzel Washington. Trata-se da biografia do líder político Malcolm X, que lutou de forma intensa contra o racismo e o preconceito racial ainda na década de 1960 nos EUA. Washington vive o personagem título e pelo papel receberia sua terceira indicação ao Oscar e primeira como ator principal (ele já tinha um prêmio da Academia como ator coadjuvante). Muitos ainda consideram a não indicação do filme na categoria principal daquele Oscar, uma das maiores esnobadas da Academia no eterno negligenciado Spike Lee.
Existem filmes cult que parecem não emplacar muito, nem mesmo entre os cinéfilos brasileiros. Veja, por exemplo, o caso com este drama baseado numa peça de teatro do dramaturgo David Mamet e dirigida por James Foley. Apesar de sua extrema qualidade, não é um filme muito mencionado pelos fãs, nem em sua época de lançamento, e tampouco atualmente. Mas é um filme que merece ser encontrado, assistido e comentado. Um grande elenco desfila em tela, de nomes como Jack Lemmon, Al Pacino, Alec Baldwin, Alan Arkin, Ed Harris, Jonathan Pryce e o “maldito” Kevin Spacey – todos vivendo corretores com a corda no pescoço em sua empresa. A obra é uma visão única de tal universo em sua época – um registro do mercado imobiliário e seus funcionários nos anos 90. O grande Al Pacino recebeu indicação ao Oscar de coadjuvante pela obra.
Engana-se quem pensa que o talentosíssimo Daniel Day-Lewis, um verdadeiro monstro sagrado, só trabalha em produções densas de drama. Em algum momento de sua carreira, o renomado ator já foi um herói de ação. E esse momento foi há exatos 31 anos no passado. Vindo dele, é claro que este não seria um filme de ação qualquer, mas sim um bem badalado e exalando qualidade pelos poros. Trata-se de O Último dos Moicanos, no qual o ator interpreta um mestiço de britânicos e nativos americanos, que se tornou um exímio caçador. Em meio a guerra entre povos, ele decide proteger a filha de um coronel britânico, por quem se apaixonou (papel de Madeleine Stowe). O filme é dirigido pelo especialista Michael Mann. O longa levou um Oscar de melhor som.
Invariavelmente, os filmes mais elogiados pelo grande público também figuraram no Oscar de seu respectivo ano. O que mostra que as opiniões dos críticos, a dos especialistas e profissionais da área de cinema, e a dos fãs não são tão diferentes assim, muitas vezes inclusive coincidindo bastante. Assim, vimos na lista algumas produções indicadas ao maior prêmio do cinema, e aqui seguimos com elas. Um dos filmes mais badalados de 31 anos atrás, e um favorito pessoal, aqui temos outra adaptação de uma peça teatral para as telonas. Esta escrita pelo mestre Aaron Sorkin. Quem protagoniza e brilha é o astro Tom Cruise na pele de um advogado da marinha desleixado e desmotivado. Designado a um importante caso envolvendo um trote que saiu do controle e terminou com a morte de um soldado, ele será impulsionado pela ajuda da parceira Demi Moore a confrontar o oficial de alta patente que pode ter sido responsável por tudo, papel de Jack Nicholson (indicado ao Oscar pelo filme). Questão de Honra recebeu 4 indicações ao Oscar, incluindo melhor filme.
Por falar em filmes indicados ao Oscar, não apenas este drama sobre um ex-militar amargurado por ter perdido sua visão recebeu honraria de nomeações da Academia para melhor filme, diretor (Martin Brest) e roteiro, como rendeu a muito aguardada vitória para o protagonista Al Pacino – que a esta altura já tinha 6 indicações sem vitória, mesmo sendo considerado um dos maiores intérpretes do cinema em atividade. Fato que o próprio topou tirar sarro num filme de Adam Sandler. No mesmo ano, Pacino havia sido indicado como coadjuvante por O Sucesso a Qualquer Preço, mas se vão premiar um ator do porte de Pacino, que seja com o Oscar de protagonista. E assim foi feito, com um de seus papeis mais emblemáticos. Curiosamente, o longa é um remake de uma produção italiana de 1974.
Depois de uma fase enfrentando dificuldades, que somavam críticas negativas e fracassos de bilheteria em suas animações, a Disney finalmente conseguia dar a volta por cima no fim dos anos 80, no que ficaria conhecido como a sua retomada. E o filme responsável por isso foi um dos mais queridos no acervo do estúdio: A Pequena Sereia (1989). Depois disso, a Disney deu um passo ainda maior com o celebradíssimo indicado ao Oscar A Bela e a Fera (1991). Com dois grandes acertos, o estúdio precisava manter o nível de excelência sem deixar a peteca cair como antes. E foi exatamente o que fez com o lançamento de Aladdin – um grande favorito dos fãs. O filme conta com uma performance inspiradíssima do saudoso Robin Williams no papel do gênio da lâmpada. Aladdin foi indicado para 5 Oscar e levou as categorias de melhor trilha sonora e melhor canção para ‘A Whole New World’. Fora isso, é o primeiro que se encontra também na lista dos mais bem avaliados de todos os tempos segundos os fãs.
Em segunda posição da lista como o segundo filme preferido de 31 anos atrás do grande público, se encontra essa obra quintessencial do cineasta Clint Eastwood – que marcou a despedida do diretor dos faroestes tradicionais (ele ainda viria a fazer Gran Torino e Cry Macho – considerados faroestes modernos). E o grande astro dos westerns não poderia pedir por uma “canção dos cisnes” mais digna. Na trama, Eastwood vive um pistoleiro envelhecido, que decide se tornar fazendeiro após ter se casado. Sua esposa morre e deixa os dois filhos pequenos para ele criar. Sem condições, ele resolve voltar à vida de crime e alista um velho parceiro (Morgan Freeman) para fazer justiça com as próprias mãos e matar uns rapazes que haviam abusado de prostitutas. Mas não será tão fácil, pois na cidade quem manda é o xerife linha-dura Pequeno Bill (Gene Hackman). Os Imperdoáveis está entre os 150 melhores filmes de todos os tempos na opinião do público, e venceu os Oscar de melhor filme, diretor (Eastwood), coadjuvante (Hackman) e edição, além de outras 5 indicações, incluindo roteiro e ator para Eastwood.
Em primeiríssima posição como o melhor filme de 31 anos atrás no cinema, na opinião do grande público, está o primeiro filme do cineasta Quentin Tarantino. Revolucionário e ainda extremamente influente, Tarantino parece ter lançado um subgênero próprio de cinema, que logo era imitado ou homenageado por meia Hollywood. O fenômeno divisor de águas para a indústria viria mesmo com seu segundo trabalho, Pulp Fiction (1994), mas o diretor já exibia a grandiosidade de um verdadeiro mestre logo em sua estreia. É claro também que Cães de Aluguel ganharia um status de culto extremamente elevado após o lançamento de Pulp Fiction, quando todos resolveram buscar e conhecer o primeiro trabalho do novo gênio de Hollywood. Na época, por se tratar de um filme independente e menor, Cães de Aluguel passou meio em branco, fazendo parte de circuitos de cinéfilos de arte. Depois de 1994, sua fama não pararia de crescer. Na trama, um grupo de gangsters, todos com nomes de cores, colocam em prática um plano de roubo a uma joalheria – que sai terrivelmente errado, com parte do grupo ferido, morto e foragido. O reencontro do grupo é num galpão abandonado, onde eles irão descobrir mais sobre uns aos outros. O filme está entre os 90 preferidos de todos os tempos na opinião do público.
