Ao longo da história da sétima arte, diversas fontes serviram de inspiração para os filmes. Os livros, por exemplo, remetem diretamente dos primórdios do cinema, e também de Hollywood, a maior indústria cinematográfica do mundo. Tudo, desde histórias em quadrinhos, seriados e programas de TV, biografias e até mesmo brinquedos (como linhas de bonecos e jogos de tabuleiro) já foi utilizado pelos roteiristas como base na hora de fazer filmes. No entanto, uma das mídias mais maltratadas pelos filmes ainda são os videogames. Se formos analisar de perto, notaremos que de todas as adaptações de games eletrônicos para o cinema, a grande parte não agradou os críticos e os fãs, ficando abaixo também de seu investimento financeiro.
Durante décadas, os heróis de histórias em quadrinhos também eram motivo de piada em Hollywood, no entanto, viram surgir uma onda de popularidade no início da década de 2000, e ascenderam até se tornarem a fonte mais confiável e lucrativa do cinema na atualidade. Isso que é moral. Muitos se perguntam quando será a vez dos videogames, ou será esse dia de fato chegará. Bem, com produções do nível da série ‘The Last of Us’ e da recente animação ‘Super Mario Bros.’ (que promete quebrar todo tipo de recorde de bilheteira esse ano), podemos nos animar um pouco mais de que essa mudança de sorte esteja finalmente chegando.
No clima dessas duas produções recentes de sucesso baseadas em videogames, resolvemos fazer um apanhado com as 10 melhores adaptações do gênero para o cinema e TV. Confira.
Aqui em décima posição estreando o ranking temos quase um empate técnico. Por muito pouco, ‘Uncharted: Fora do Mapa’ não figurou entre as 10 melhores adaptações. ‘Uncharted’ é um game da nova geração que é um dos “filhotes” de ‘Indiana Jones’. O filme baseado nele é do ano passado e tinha Tom Holland (o Homem-Aranha) estrelando. Os fãs até preferem ‘Uncharted’ do que ‘Rampage’ – filme com Dwayne Johnson que adapta um game de monstros gigantes que surgiu lá na década de 80 (mais precisamente em 1986). Com o filme, The Rock voltava ao gênero após o fracasso de ‘Doom: A Porta do Inferno’ (2005). Os críticos, por outro lado, preferem ‘Rampage’ a ‘Uncharted’, e o filme com The Rock também teve uma bilheteria maior do que seu concorrente.
Mortal Kombat é um dos jogos de luta mais queridos de todos os tempos dos gamers. O primeiro da franquia chegou em 1992 nos fliperamas e depois aterrissou nos consoles de 16 bits em meados dos anos 90. A marca da franquia é a ultraviolência e o sangue escorrendo, que levava a garotada ao delírio. Logo, a primeira adaptação do game surgia em 1995, e apesar da falta de sangue, virou cult com seu público-alvo, ainda enaltecida como uma das melhores adaptações do gênero. Desta forma, a Warner estava mais do que feliz em investir em um reinício para a franquia nas telonas, e o fez com ‘Mortal Kombat’ (2021), que trouxe nova onda de popularidade para o produto – apesar de não ter atingido financeiramente o esperado, mesmo assim promete uma sequência. Para a surpresa de muitos, os próprios fãs e os críticos aprovaram mais o reboot do que haviam feito com o original. A única diferença foi a bilheteira – mais “gorda” nos anos 90, por incrível que pareça.
Outro que deve surpreender muitos com sua posição aqui no ranking. Essa lista, no entanto, não é montada utilizando apenas o gosto pessoal aqui da redação, mas sim através de uma pesquisa envolvendo análises dos críticos, de bilheterias e do grande público. Assim como ‘Mortal Kombat’, o primeiro ‘Lara Croft: Tomb Raider’ (2001), com Angelina Jolie, apesar de não ser um filme propriamente bom, possui sim sua legião de fãs, se tornando um cult, de certa forma, querido. Lançado ainda em 1996, o game da exploradora britânica Lara Croft tem clara inspiração em ‘Indiana Jones’. O reboot estrelado por Alicia Vikander planejava uma versão mais “séria” da história, mas também não atingiu o esperado e a sequência ficou embargada. Apesar disso, os fãs e os críticos preferiram a nova versão com Vikander. As bilheterias são praticamente idênticas, com o filme de Jolie fazendo uso de um orçamento ainda maior.
Em sétima posição chega agora a recente animação da Universal Pictures e Illumination Studios, baseada no que é provavelmente o jogo eletrônico mais popular de todos os tempos. Lançado para os consoles da Nintendo, o encanador bigodudo Mario surgiu como protagonista de seu próprio jogo ainda em 1985, tendo aparecido anteriormente como coadjuvante no jogo de Donkey Kong em 1981. Mario se tornou tão popular que virou o mascote da empresa Nintendo e sua “galinha dos ovos de ouro”. Com tamanho sucesso, o personagem também marca um recorde em sua trajetória, foi a primeira adaptação de um videogame para o cinema, há 30 anos no passado – com o filme em live-action protagonizado por Bob Hoskins e Dennis Hopper, e produção da Disney. Filme este que muitos fãs preferem esquecer. Bem, e realmente ficou no passado, já que Mario sacudiu a poeira e deu a volta por cima, prometendo uma nova franquia animada após o sucesso comercial de seu mais recente filme.
Muitos podem não saber, mas antes de se tornar uma série animada de sucesso no final dos anos 90, ‘Pokémon’ surgiu como um videogame em 1996 – no ano anterior à primeira temporada do programa na TV. Os jogos foram fabricados em parceria com a mesma Nintendo de Mario. Os monstros de bolso colecionáveis logo se tornariam uma verdadeira febre entre os gamers, e até os jogadores casuais. Mas definitivamente foi o desenho animado que elevou a marca a outro patamar, e fez do bichinho amarelo Pikachu um personagem muito querido pelos fãs – os japoneses adoram esse tipo de criaturinha. Pokémon ganhou os cinemas, ainda na forma das mesmas animações da TV, no fim dos anos 90 e início de 2000 com uma série de longas-metragens. Mas a primeira vez que renderia um filme em live-action seria em 2019, com ‘Detetive Pikachu’ – que teve a voz de Ryan Reynolds numa sacada de mestre. Onde está a sequência é o que todos querem saber.
Em quinta posição temos os filmes do ‘Sonic’, o mais recente sucesso junto à garotada. Talvez abaixo apenas de Super Mario Bros, o ouriço azul Sonic é o personagem de videogame mais popular do mundo. O bichinho peludo é para a empresa Sega, o que Mario é para a Nintendo. Ou seja, ambos são o Mickey para suas Disney. Mario surgiu antes ainda na década de 80, mas quando Sonic surgiu no Mega Drive (ou Sega Genesis nos EUA) em 1991 – como o carro-chefe do console -, revolucionou com sua tecnologia de processadores que permitiam uma maior rapidez do personagem em tela, se tornando um dos grandes atrativos. No cinema, ‘Sonic’ chegou em 2020, o ano em que o mundo parou. Antes disso, sofreu um tiro pela culatra pelo design, digamos, canhestro da primeira versão do personagem. Os produtores ouviram os fãs, correram para reimaginar o bichinho em tempo recorde e o lançaram para o sucesso. Com dois filmes lançados nos cinemas, ‘Sonic’ escala para se tornar a franquia de games mais bem sucedida nas telonas também, com o segundo filme superando o original, e um terceiro já engatilhado.
Sabe aquela história de fogo de palha, ou moda passageira? Pois bem, os passarinhos mais irritados da cultura pop parecem ter sido exatamente isso. Uma verdadeira febre desde seu lançamento em 2009, o jogo básico de destruição e quebra-cabeça parecia estar em todos os lugares, com facilidade de ser jogado em qualquer plataforma, até mesmo aparelhos de celular. O joguinho viciante estava por todos os lados, e a Sony Pictures, através de seu braço de animação, viu a oportunidade de surfar nesse hype e tirou do papel um longa-metragem animado para os passarinhos revoltados chamarem de seu. O primeiro longa estreou em 2016, e apesar da boa bilheteria não impressionou muito os críticos. A continuação chegou três anos depois e fez o inverso, caiu nas graças dos críticos, mas teve uma bilheteria bem abaixo do original – terminando assim a pretensa franquia nos cinemas. Bem, pelo menos até o momento.
Preso no inferno dos desenvolvimentos, a tentativa de levar o jogo HALO às telas parecia ser uma novela sem fim. Nem mesmo ter um produtor da magnitude de Steven Spielberg parecia ser o suficiente para tirar o projeto do status quo. O game de tiro de primeira pessoa, que mostra uma missão espacial no futuro foi sensação no início dos anos 2000, se transformando numa franquia muito longeva. Spielberg, fã do material, tentava de tudo para fazer de HALO o mais novo sucesso dos cinemas. Após muitas investidas e tentativas, a produção veria uma luz no fim do túnel, mas não como filme no cinema, e sim como série de TV – exibida pela Paramount+. Apesar dos elogios dos fãs e da crítica, ‘HALO‘ não se tornou um fenômeno, e o motivo para isso se resume à plataforma na qual está inserido. A Paramount+ não está nem perto de ser a líder de mercado, pelo contrário, ainda se encontra atualmente na parte de baixo dos streamings menos populares. Mesmo não sendo um programa assim tão assistido ou badalado, quem viu gostou, e isso é o suficiente para ocupar a terceira posição.
O que, você pergunta? Sim, muitos podem dizer que trapaceamos ao colocar em segunda posição um filme que quase ninguém conhece, baseado num jogo que muitos sequer sabem que existe. Bem, da maneira mais democrática possível, damos chances a todos os filmes, e se o videogame existe, por que não leva-lo em consideração? Além disso, essa é uma oportunidade para todos que quiserem conhecer essa obra verdadeiramente divertida e engraçada, que remete à trilogia do Cornetto de Edgar Wright (‘Todo Mundo Quase Morto’, ‘Chumbo Grosso’ e ‘Heróis de Ressaca’) e seu típico humor seco. Para todos que quiserem conferi-lo, o filme está atualmente disponível na plataforma da Amazon Prime Video e também na HBO Max. Assim como no game da Ubisoft lançado em 2016, uma gama de personagens é apresentada, todos moradores de uma pequena cidade gelada nos EUA. O jogo propunha que o jogador descobrisse quem dentre os personagens é na verdade um lobisomem. E o filme segue a mesma linha.
Tendo a mão da HBO e os mesmos produtores da elogiadíssima e premiada ‘Chenobyl’ (2019), ‘The Last of Us’ viveu para se tornar a adaptação de videogame mais adorada da história do audiovisual. De forma unânime, não existe ninguém que tenha se aventurado a assistir o programa e não tenha gostado. O nível do roteiro e o desenvolvimento dos personagens é altíssimo. O terceiro episódio da série, por exemplo, intitulado ‘Long, Long Time’ é de uma sofisticação ímpar, se tornando uma das obras mais emotivas de anos recentes. A premissa do episódio daria um filme por si só. Aliás, ‘The Last of Us’ é garantido de “papar” muitos prêmios na próxima temporada, e caso contrário será uma grande surpresa. Quando pensávamos que o subgênero dos zumbis já havia sido explorado à exaustão, percebemos que a HBO ainda não havia investido na temática – e quando o fez, o resultado foi esse. Afinal, os monstros foram tratados da maneira devida, como notas de rodapé. É sempre sobre os personagens, se forem bons, tiveram carisma e forem bem-desenvolvidos, o resto se torna o resto. Com super-heróis é o mesmo. É preciso ser sobre os personagens e suas dinâmicas de interação. Não sobre ação, ou terror. ‘The Last of Us’ acerta por isso.
